Juliana sentiu o suor escorrer pelas têmporas enquanto fechava a última caixa de papelão com o que restava do quinto rolo de fita adesiva. Deixou soar um suspiro cansado e endireitou-se, apoiando uma mão no canto da escada e sentindo estalarem os joelhos.
Quando finalmente ergueu os olhos, percebeu que contemplava o vazio. Os móveis não mais ostentavam sua história nem seus elásticos perdidos de cabelo. As paredes estavam nuas, bem como o chão, despido do aconchegante tapete branco. Aquilo era adeus, enfim.
Adeus à confortável solidão que a acompanhara nos últimos dois anos, aos mimos do luxuoso condomínio, a todo um estilo de vida que já vinha se mostrando frágil e inconsistente desde que dera o primeiro passo, saindo da casa dos pais. O que agora?
Pra onde agora? Sentia voltar à barriga o desconforto da ficha do vestibular, e das tantas vezes que se vira arranhando o status de adulta ou independente, sem jamais de fato alcançar qualquer definição além de aprendiz. Mas agora era diferente… Dali em diante, suas escolhas passavam a ter consequências além do próprio umbigo e o “agora”, aos poucos, perderia espaço para um futuro onipresente.
A ideia era paralisante, mas também lhe fazia sorrir, meio sem motivo. Sabia exatamente o que queria – e com quem queria – e o simples fato de saber tudo isso a surpreendeu.
_ Está tudo pronto?
_ Está, pode colocar no caminhão.
Contemplou os minutos seguintes como se tirasse um curativo lentamente, checando cada estágio da cicatrização até o eco tomar conta do lugar. Sorriu de novo, tateando o bolso em busca de algo tintilante.
Apertou com força a chave do novo apartamento e fechou a porta atrás de si, definitivamente.