Caco disse para a mãe que estava indo ao clube e, antes que ela pudesse perguntar mais detalhes, os dois partiram correndo pela rua. Caminharam por vinte minutos na avenida principal, depois dobraram à direita num posto de gasolina, subiram uma ruazinha estreita e Caco parou, fazendo sinal para que Lisa o acompanhasse. Então levantou o dedo indicador.
“Está vendo aquela barraca de frutas?” – Perguntou, tentando manter a voz baixa e calma.
“Aham…” – respondeu a amiga, ansiosa.
Caco forçou os olhos como se procurasse alguma coisa e afirmou sem muita convicção: “Atrás dela deve ter uma passagem. Foi aqui que você sumiu.”
Lisa não via nenhuma passagem, mas achou melhor acreditar e se preocupar com questões mais práticas: “Como passaremos pela velhinha?”
Atrás do balcão, onde se misturavam maracujás, melancias, bananas e algumas frutas que os dois nunca tinham visto, havia uma senhora gorducha de pele escura, com rugas cobrindo os olhos e cabelos escondidos sob um lenço cor-de-avelã, concentrada na leitura do jornal.
Como sempre, Caco tinha um plano. Olhou em volta até encontrar algo de um tamanho específico e arremessou o objeto a poucos centímetros das frutas, no canto interno da barraca. Dando uma piscadela para Lisa, virou-se para a vendedora que agora o encarava com ar de irritação e falou, gesticulando excessivamente:
“Desculpe, senhora! Estávamos brincando e nossa bola caiu dentro da sua barraca! Será que podemos…”
A mulher atrás do balcão ergueu as sobrancelhas e pareceu ponderar por um minuto, então ergueu parte do balcão, deixando livre a passagem, e voltou para seu jornal. Lisa e Caco se entreolharam, incrédulos, e, a passos muito lentos, atravessaram a abertura que levava para onde ela estava. Jogaram-se no chão fingindo procurar a bola e avançaram para os fundos, desajeitados, até baterem as testas num sólido e espesso muro de concreto.
“Essa não!” – Sussurrou ele, levando a mão ao recém-adquirido galo – “Tenho certeza de que era esse o lugar!”
Lisa lançou-lhe um olhar de reprovação e balançou a cabeça, ajeitando-se para levantar quando algo atraiu seu olhar. Numa cesta entreaberta, quase ao pé da senhora, podia ver pequenas pedrinhas azuis muito brilhantes. Sentindo o coração acelerar, levou a mão ao bolso instintivamente, mas não teve tempo de concluir a ação.
A dona da frutaria se levantara da cadeira e, num passo, derrubou a cesta, espalhando as pedras por todo o chão. Assustada, Lisa se virou para chamar o amigo, mas se surpreendeu ao ver, atrás dele, não o muro de concreto, mas uma praça ampla com chão de terra. Quando recuperou o ar notou que Caco também tinha uma expressão de susto e voltou os olhos para ver o que era. Viu, enfim, o muro. A mulher se fora, bem como as pedrinhas azuis.
***
[CONTINUA]