Estava pensando em superpoderes. Não nos dos super-heróis, fantásticos e inúteis (a não ser que você esteja metido numa batalha contra as forças do mal), mas nos de gente nada heroica, desses poderes discretos que fazem a diferença na vida pacata de quem não gosta nem de brigar. Por exemplo: tem gente que é boa com pessoas e consegue tudo, só na lábia. Tem gente que cozinha bem, e isso já é meio caminho andado para uma vida feliz. E memória fotográfica então? Baita poder!
Esses dias, cheguei à conclusão de que o meu superpoder é desatar nós. Um pouco frustrante, eu sei – não é como se eu pudesse respirar debaixo d’água ou levantar um carro com um dedinho – mas podia ser pior. Lembra daquela correntinha maldita que insiste em se embaraçar cinco minutos antes de você sair? Então, manda pra mim! E a embalagem de presente que você não quer rasgar? Eu rasgo, admito, mas aceito o desafio. E sabe o que mais? Também me viro bem com o rolo de fita adesiva cuja ponta insiste em se camuflar só para tirar uma com a sua cara… Não é um nó, mas exige a mesmíssima unha sagaz. Viu a utilidade?
Infelizmente, ainda não consegui fazer do desatamento de nós meu ganha-pão. Culpa minha, exclusivamente: inventei de tentar viver de textos quando, na verdade, devia saber que ler não é nenhuma necessidade indispensável. Os nós e as pontas perdidas, por outro lado, são uma praga. Esperam pelo momento exato em que você não está olhando e pronto: puxam um fio daqui, outro dali e saem dançando com eles numa verdadeira salsa cubana. Aí, já viu. Num dia é o fone de ouvido, no outro é o rolo de magipac… E, de nó em nó, de ponta em ponta, a vida vai ficando toda imperfeita.
Já posso encomendar meu bat-sinal?